Rivotril: Os Alertas Sobre o Uso Contínuo de Medicamento ‘Para Emergência
Os benzodiazepínicos, como o clonazepam (Rivotril), diazepam e lorazepam, surgiram nos anos 1960 como uma esperança para tratar ansiedade, fobia social, epilepsia e outros quadros psiquiátricos com menos riscos de efeitos colaterais graves. No entanto, especialistas alertam que o uso contínuo desses medicamentos deve ser limitado a períodos curtos ou situações de emergência, devido ao risco de abuso, tolerância e dependência.
“O principal erro é prescrevê-los como tratamento único ou como primeira opção terapêutica”, afirma o psiquiatra Márcio Bernik, coordenador do Programa de Transtornos de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo (IPq-FMUSP). Para tratamentos como fobias e transtornos de pânico, alternativas como a terapia cognitivo-comportamental e antidepressivos em doses baixas devem ser consideradas antes.
O uso prolongado dos benzodiazepínicos pode levar a uma necessidade crescente de doses mais altas para obter o mesmo efeito, criando um perigoso vínculo emocional entre a melhora dos sintomas e a necessidade de medicação frequente. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que, em 2022, foram vendidas mais de 65 milhões de unidades de clonazepam no Brasil.
Essas medicações agem no sistema nervoso central, aumentando a afinidade dos receptores pelo neurotransmissor GABA, o que resulta em um efeito inibitório e uma sensação de calmaria. No entanto, os benzodiazepínicos também podem causar sono excessivo, relaxamento muscular, perda de memória e lentificação das reações, tornando perigoso dirigir ou operar máquinas pesadas durante o tratamento.
O uso contínuo leva à perda do efeito terapêutico e ao desenvolvimento de sintomas de abstinência, sendo necessário aumentar a dose para obter os mesmos resultados. O ideal é que os pacientes recebam orientação adequada sobre como e quando descontinuar o uso dessas medicações para evitar sintomas de abstinência.
Em janeiro de 2021, a Roche, empresa desenvolvedora do Rivotril, transferiu os direitos relacionados ao clonazepam globalmente para a Blanver Farmoquímica e Farmacêutica S.A. no Brasil.
Os benzodiazepínicos são indicados para uso pontual em situações de emergência, e não devem ser considerados uma solução a longo prazo para problemas psiquiátricos. O tratamento contínuo deve ser reavaliado por um especialista para garantir a segurança e eficácia no manejo dos sintomas.