TDAH

Especialistas Alertam para ‘Epidemia de Diagnósticos’ de TDAH entre Crianças

Especialistas exigiram mais rigor no diagnóstico e na prescrição de medicamentos para o tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) em crianças e adolescentes, durante uma audiência pública promovida pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS). A audiência foi proposta pelo senador Eduardo Girão (Novo-CE), que expressou preocupação com o aumento significativo das prescrições de medicamentos para TDAH, especialmente a Ritalina, que tem como princípio ativo o metilfenidato.

Crescimento nas Prescrições e Seus Impactos

“O uso indiscriminado da Ritalina parece ter se tornado uma cultura, facilitando a vida dos pais. Isso, obviamente, tem um efeito na criança ou adolescente. Que impacto isso tem? Que sequelas isso pode deixar? Estou muito preocupado com o efeito devastador que o uso indiscriminado desse medicamento, que virou moda, pode causar nas futuras gerações do Brasil”, afirmou o senador Girão.

A Epidemia de Diagnósticos

Maria Aparecida Affonso Moysés, professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Campinas (Unicamp), alertou para uma “epidemia de diagnósticos” de TDAH, baseados em critérios vagos e imprecisos. Ela destacou que a produção de metilfenidato aumentou de 38 para 72 toneladas em 2014, um aumento sem precedentes em qualquer outra área da medicina.

Segundo Moysés, há um processo significativo de medicalização e “patologização” da vida de crianças e adolescentes que estão simplesmente fora dos parâmetros sociais artificiais. “Vivemos uma epidemia não de transtornos mentais, mas de diagnósticos de transtornos mentais. Um ideário que não aceita diferenças, questionamentos, singularidade”, disse ela.

Efeitos Colaterais e Preocupações

Izabel Augusta Hazin Pires, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e representante do Conselho Federal de Psicologia, destacou os “efeitos tardios” provocados pelo uso continuado do metilfenidato, incluindo dependência, mascaramento de outras doenças como ansiedade e síndrome do pânico, diminuição do apetite e do sono, problemas cardiovasculares e até óbito. Ela criticou a promessa de respostas imediatas e simplistas pela medicalização, alertando para o uso indiscriminado da Ritalina muitas vezes sem acompanhamento adequado.

A Importância do Diagnóstico Adequado

Thicciana Maria Damasceno Firminiano, neuropsicopedagoga especialista em TDAH, ressaltou a necessidade de diagnósticos criteriosos antes da prescrição da Ritalina. “O diagnóstico não pode ser feito em 30 minutos ou em poucas sessões. É preciso uma investigação profunda e séria da criança desde o nascimento”, afirmou.

Testemunhos e Defesas

Isaura Sarto, advogada e mãe de um garoto diagnosticado com autismo e TDAH, defendeu a prescrição da Ritalina para aqueles que realmente precisam. Ela relatou que a medicação melhorou significativamente a qualidade de vida de seu filho, tornando-o mais presente, tranquilo e independente.

Christina Hajaj Gonzalez, representante do Conselho Federal de Medicina (CFM), informou que a prevalência mundial de TDAH entre crianças e adolescentes varia de 3% a 5%. No Brasil, estudos apontam prevalências de 1,8% e 5,8%, respectivamente. Ela destacou a importância de diagnósticos e tratamentos adequados para evitar consequências graves como baixa autoestima, sonolência diurna, impulsividade, uso de álcool e drogas e dificuldades nos relacionamentos interpessoais.

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